A ARTE DA ESPREITA
"A
arte dos Espreitadores é a arte de mover e fixar o ponto de aglutinação
segundo a intensão mas sempre com um objetivo primordial que é a
estratégia.Sobre a estratégia ela apenas condiz com o caminho e o ideal
do guerreiro se é aplicada com o unico objetivo de cumprir as
designações do Intento, designações que vem ao guerreiro tão claras
quanto for seu elo com o mesmo.A estratégia é tb o metodo mais eficiente
de economizar a energia de que dispomos pra tudo o que fazemos tal pode
ser feito por exemplo pelo dominio da mente.Os pensamentos podem ser
grande causa de gasto energético quando são desgarrados e
indisciplinados são como uma floresta de pinheiros mortos projetando uns
sobre os outros a sombra de sua propria ignorancia, impedindo a luz de
tocar o fertil solo da verdadeira mente."
"A ESPREITA
Expressões pesquisadas:
- Espreita
- Espreitar
RESUMO DAS CITAÇÕES (livros e páginas):
1 – A Erva do Diabo -
2 – Uma Estranha Realidade - 171
3 – Viagem a Ixtlan -
4 – Porta para o Infinito -
5 – O Segundo Circulo do Poder - 78-167-167-168-180
6 – O Presente da Águia - 221-230
7 – O Fogo Interior - 27-163-164-166-167-178
8 – O Poder do Silêncio - 16-53-78-80-91-92-233
9 – A Arte de Sonhar - 86-94-181-205
10 – Passes mágicos - -
11 – A Roda do Tempo - 198-217-218-219-220-221
12 – O Lado Ativo do Infinito - 223-224
13 – Encontros com o Nagual - 39-79-82-120-125-140-142-143-144-145-146
Considerações:
As habilidades da espreita e do sonhar são os dois pilares do caminho de evolução dos toltecas do Antigo México.
A espreita se relaciona fortemente, além do sonhar, com muitas outras
“unidades de significado” deste conhecimento a saber: o tonal, o ponto
de aglutinação, o pequeno tirano, a impecabilidade, a importância
pessoal, os hábitos e rotinas, a loucura controlada, a energia sexual, a
consciência intensificada, a recapitulação, e por aí afora...
A arte da espreita, já que lida com pessoas e comportamento, por um lado
é aparentemente exterior, mas por outro lado tem raízes profundas com o
lado “oculto” do ser humano, incompreensível à razão habitual, que é o
corpo energético.
A arte da espreita está ligada ao coração, assim como a mestria da
consciência está ligada á mente, e a mestria do intento ao espírito.
O seu propósito é deslocar gradual, firme e seguramente o ponto de aglutinação e fixá-lo além do chamado inventário humano.
A espreita pode ser aplicada a tudo, mas espreitar a sí mesmo é a sua expressão mais fina e valiosa.
Se fôssemos resumir os pontos importantes das considerações sobre a espreita, diríamos:
- É a habilidade de fixar o ponto de aglutinação numa nova posição
- É uma batalha silenciosa para “conseguir os objetivos” da melhor forma em cada situação.
- É um controle sistemático do comportamento
- É uma forma de relacionar-se com as pessoas, mas sua atuação objetiva “afinar o próprio praticante”.
- É colocar-se em situações limite (perigo, medo, saturação sensorial, agressão)
- A espreita é ligada ao tonal, corpo direito, primeira atenção. O sonho é o oposto (nagual, corpo esquerdo, segunda atenção)
- Ela move devagar e mantém o ponto de aglutinação na nova posição (coesão). O sonho é o oposto
- As mulheres são naturalmente mais afeitas á espreita que os homens
- É regida por 7 princípios (vide abaixo)
- Tem 4 passos de aprendizado: implacabilidade, esperteza, paciência e doçura
- Sua estratégia mais eficaz tem 6 pontos: controle, disciplina, paciência, oportunidade, vontade e o pequeno tirano
- Espreita-se tudo, até as próprias fraquezas, mas o “estado da arte” é espreitar a sí mesmo
- Seus resultados são: rir de si mesmo, não se levar a sério, capacidade infinita de improvisação
- A espreita é o enigma do coração; a consciência é o da mente; o intento é o do espírito
- É um comportamento secreto, furtivo e enganoso para produzir um choque (em si mesmo)
- Para espreitar é preciso ter um propósito, ser impecável, sair da
auto-importância, banir hábitos e praticar a loucura controlada
(fingir-se imerso na ação, mas sem se identificar, nem ser notado)
- A recapitulação é o ponto forte dos espreitadores. É uma forma especializada de espreitar as rotinas internas.
- A espreita é melhor aprendida em consciência intensificada, sem o inconveniente do inventário
- Liga-se á energia sexual de forma individual. O sonhador usa a energia sexual para sonhar. O espreitador é o oposto
Citações
• “A arte da espreita é um conjunto de procedimentos e atitudes que possibilita a um guerreiro
conseguir o melhor de qualquer situação concebível. “
A Roda do Tempo, pág. 198
1. “O primeiro princípio da arte da espreita é que os guerreiros
escolhem o campo de batalha. Um guerreiro nunca vai para a batalha sem
saber o que o cerca.
2. Descartar tudo que não é necessário é o segundo princípio da arte da
espreita. Um guerreiro não complica as coisas. Seu objetivo é ser
simples.
3. Ele aplica toda a concentração que tem para decidir se entra ou não
na batalha, pois qualquer batalha é uma batalha por sua vida. Este é o
terceiro princípio da arte da espreita. Um guerreiro deve estar disposto
e pronto para travar sua última batalha aqui e agora. Mas não de uma
maneira descuidada.
4. Um guerreiro relaxa e se abandona; ele nada teme. Só então os poderes
que guiam os seres humanos abrem o caminho para o guerreiro e o ajudam.
Só então. Este é o quarto princípio da arte da espreita.
5. Quando diante de dificuldades com as quais não podem lidar, os
guerreiros recuam por um momento. Eles deixam a mente vagar. Ocupam seu
tempo com alguma outra coisa. Qualquer coisa serve. Este é o quinto
princípio da arte da espreita.
6. Os guerreiros comprimem o tempo este é o sexto princípio da arte da
espreita. Mesmo um instante conta. Numa batalha por sua vida, um segundo
é uma eternidade, uma eternidade que pode decidir o resultado final. Os
guerreiros visam ao sucesso, portanto comprimem o tempo. Os guerreiros
não desperdiçam um só instante.
7. Para aplicara sétimo princípio da arte da espreita, é preciso aplicar
os outros seis; um espreitador nunca se lança para a frente. Ele sempre
olha para frente por detrás das cenas.”
A Roda do Tempo, págs. 217 a 221
.
• “Disse que seu benfeitor considerava as três técnicas básicas da
espreita - o engradado, a lista de acontecimentos a serem recapitulados,
e a respiração do espreitador - como sendo as tarefas talvez mais
importantes de um guerreiro. Ele achava que uma recapitulação profunda
era o meio mais eficiente para se perder a forma humana. Portanto, seria
fácil para os espreitadores, depois de recapitularem suas vidas, fazer
uso de todos os não fazeres do seu eu, tais como apagar sua história
pessoal, perder a auto-importância, quebrar as rotinas, e assim por
diante.
Informou que seu benfeitor deu a todos eles exemplos do que queria
dizer, primeiro demonstrando suas premissas, e depois expondo os
princípios do guerreiro nas suas ações. No seu caso, como ele era um
mestre na arte de espreitar, engendrou o plano da sua doença e sua cura,
que não só foi coerente com o método do guerreiro mas também foi uma
introdução magistral aos sete princípios da arte de espreitar. Primeiro
atraiu Florinda a seu próprio campo de batalha, onde ela ficou à sua
mercê; forçou-a a descartar-se do que não fosse essencial; ensinou-lhe a
colocar sua vida nos eixos, através de uma decisão; ensinou-lhe a
relaxar; fez com que ela desenvolvesse um espírito diferente de otimismo
e autoconfiança para que pudesse reorganizar seus recursos; ensinou-lhe
a condensar o tempo; e finalmente mostrou-lhe que um espreitador nunca
se põe à frente das coisas.
Florinda se impressionava muito com o último princípio. Para ela ele
resumia tudo o que ela queria dizer a mim nas suas instruções de última
hora.
- Meu benfeitor era o chefe - disse Florinda. - Assim mesmo, olhando
para ele ninguém acreditaria. Sempre usava uma de suas guerreiras como
fachada, misturando-se livremente entre os doentes, fingindo ser um
deles, ou fazendo-se passar por um velho idiota varrendo as folhas secas
com uma vassoura improvisada.
Florinda explicou que para aplicar o sétimo princípio da arte de
espreitar, tem-se de aplicar os outros seis. Assim, seu benfeitor ficava
sempre por trás dos bastidores. Graças a isso ele era capaz de evitar
ou aparar conflitos. Se houvesse discórdia, nunca era com ele e sim com a
guerreira que estivesse servindo de fachada.
- Espero que você tenha percebido a essa altura - continuou ela - que só
um mestre em espreita pode ser um mestre em loucura controlada. A
loucura controlado não significa o estudo das pessoas. Significa, como
meu benfeitor explicou, que os guerreiros aplicam os sete princípios
básicos da arte de espreitar a tudo o que fazem, desde os atos mais
simples até situações sérias de vida e de morte. A aplicação desses
princípios redunda em três resultados. O primeiro é que os espreitadores
aprendem a nunca se levarem a sério; aprendem a rir de si próprios. Se
não se importam de parecer bobos, podem enganar a qualquer um. O segundo
é que aprendem a ter uma paciência sem fim. Nunca estão com pressa,
nunca se desesperam. E o terceiro é que aprendem a desenvolver uma
capacidade infinita de improvisação.”
O Presente da Águia, pág. 230
• “Em seu esquema de ensino, o qual foi desenvolvido por feiticeiros de
tempos antigos, havia duas categorias de instrução. Uma era chamada
"ensinamentos para o lado direito", desenvolvida no estado normal de
consciência. A outra era chamada "ensinamentos para o lado esquerdo" ,
posta em prática apenas em estados de consciência intensificada.
Essas duas categorias permitiam que os professores ensinassem a seus
aprendizes em três áreas de habilidades: a mestria da consciência, a
arte da espreita e a mestria do intento.
Essas três áreas de habilidade, são os três enigmas que os feiticeiros encontram em sua busca ao conhecimento.
A mestria da consciência é o enigma da mente, a perplexidade que os
feiticeiros experimentam quando reconhecem o espantoso mistério e
propósito da consciência e da percepção.
A arte da espreita é o enigma do coração o desconcerto que os
feiticeiros sentem ao se tornarem conscientes de duas coisas: primeiro,
que o mundo parece para nós inalteravelmente objetivo e factual, por
causa das peculiaridades de nossa consciência e percepção segundo, que
se diferentes peculiaridades de percepção entram em jogo, as próprias
coisas do mundo que parecem tão inalteravelmente objetivas e factuais
mudam.
A mestria do intento é o enigma do espírito, ou o paradoxo do abstrato -
os pensamentos e ações dos feiticeiros projetados além de nossa
condição humana.
A instrução de Don Juan quanto à arte da espreita e à mestria do intento
dependia de sua instrução sobre a mestria da consciência, que era a
pedra fundamental de seus ensinamentos, que consistem das seguintes
premissas básicas:
1. O universo é uma aglomeração infinita de campos de energia, semelhantes a filamentos de luz
2. Esses campos de energia, chamados de "emanações da Águia" , radiam de
uma fonte de proporções inconcebíveis, metaforicamente denominada Águia
3. Os seres humanos também são compostos de um número incalculável dos
mesmos campos de energia filamentosos. Essas emanações da Águia formam
uma aglomeração encapsulada que se manifesta como uma bola de luz do
tamanho do corpo da pessoa com os braços estendidos lateralmente, como
um ovo luminoso gigante
4. Apenas um grupo muito pequeno de campos de energia no interior dessa
bola luminosa são acesos por um ponto de intenso brilho localizado na
superfície da bola
5. A percepção ocorre quando os campos de energia desse pequeno grupo
imediatamente ao redor do ponto de brilho estendem sua luz para iluminar
campos de energia idênticos no exterior da bola. Uma vez que os únicos
campos de energia perceptíveis são aqueles iluminados pelo ponto
brilhante, esse ponto é chamado "o ponto onde a percepção é aglutinada" ,
ou simplesmente "o ponto de aglutinação"
6. O ponto de aglutinação pode ser movido de sua posição usual sobre a
superfície da bola luminosa para outra posição na superfície ou no
interior. Uma vez que o brilho do ponto de aglutinação pode iluminar
qualquer campo de energia com o qual entrar em contato, quando se move
para uma nova posição ilumina de imediato novos campos de energia,
tornando-os perceptíveis. Esta percepção é conhecida como ver
7. Quando o ponto de aglutinação se desloca, torna possível a percepção
de um mundo inteiramente diferente – tão objetivo e factual como aquele
que normalmente percebemos. Os feiticeiros entram nesse outro mundo para
obter energia, poder, soluções para problemas gerais e particulares, ou
para encarar o inimaginável
8. Intento penetrante que nos faz perceber. Não nos tornamos conscientes
porque percebemos antes, percebemos como resultado da pressão e
intrusão do intento
9. O objetivo dos feiticeiros é atingir um estado de consciência total
de modo a experimentar todas as possibilidades de percepção disponíveis
ao homem. Esse estado de consciência implica mesmo uma maneira
alternativa de morrer.”
O Poder do silêncio, pág. 16
• “- O primeiríssimo princípio da espreita é que um guerreiro espreita a
si mesmo. Espreita a si mesmo implacavelmente, com esperteza, paciência
e docilmente.
Eu queria rir mas ele não me deu tempo. De modo muito sucinto definiu a
espreita como a arte de usar o comportamento de maneiras novas para
propósitos específicos. Disse que o comportamento humano normal no mundo
da vida cotidiana era rotina. Qualquer comportamento que escapava à
rotina causava um efeito incomum em nosso ser total. Esse efeito incomum
era o que os feiticeiros buscavam, porque era cumulativo.
Explicou que os feiticeiros videntes dos tempos antigos, através de sua
visão, primeiro haviam notado que o comportamento incomum produzia um
tremor no ponto de aglutinação. Breve descobriram que se o comportamento
incomum era praticado sistematicamente e dirigido com sabedoria,
forçava no final o movimento do ponto de aglutinação.
- O desafio real para aqueles feiticeiros videntes - continuou Don Juan -
era encontrar um sistema de comportamento que não fosse mesquinho nem
caprichoso, mas que combinasse a moralidade e o senso de beleza que
diferencia os videntes feiticeiros das bruxas comuns.
Parou de falar, e todos olharam para mim como que buscando sinais de fadiga em meus olhos ou rosto.
- Qualquer um que tenha sucesso em mover seu ponto de aglutinação para
uma nova posição é um feiticeiro - continuou Don Juan. - E a partir
dessa nova posição, pode fazer todos os tipos de coisas boas e más aos
seus semelhantes. Ser um feiticeiro, portanto, pode ser o mesmo que ser
um sapateiro, ou um padeiro. A causa dos feiticeiros videntes é ir além
dessa posição. E para fazê-lo necessitam de moralidade e beleza.
Disse que, para os feiticeiros, a espreita era o alicerce sobre o qual tudo o mais que faziam era construído.”
O Poder do Silêncio, pág. 92
• “- A espreita é uma das duas maiores realizações dos novos videntes.
Eles decidiram que deveria ser ensinada ao nagual dos dias modernos
quando seu ponto de aglutinação já se tivesse deslocado bem
profundamente para o lado esquerdo. O motivo desta decisão é que um
nagual precisa aprender os princípios da espreita sem o incômodo do
inventário humano. Afinal, o nagual é o líder de um grupo, e para
liderá-lo deve agir rapidamente, sem ter que pensar primeiro.
"Outros guerreiros podem aprender a espreitar em sua consciência normal,
embora seja aconselhável que o façam em consciência intensificada...
não tanto por causa do valor da consciência intensificada, mas porque
isto imbui a espreita de um mistério que ela na verdade não possui;
espreitar é meramente um comportamento diante das pessoas."
Disse ainda que eu podia agora compreender que mudar o ponto de
aglutinação era a razão pela qual os novos videntes atribuíam um valor
tão alto à interação com os pequenos tiranos. Os pequenos tiranos
forçavam os videntes a usar os princípios da espreita e, ao fazê-lo,
ajudavam-nos a deslocar seus pontos de aglutinação. .
Perguntei-lhe se os antigos videntes sabiam alguma coisa sobre os princípios da espreita.
- A espreita foi desenvolvida exclusivamente pelos novos videntes -
falou, sorrindo. - São os únicos videntes que tiveram de lidar com
pessoas. Os antigos estavam tão enredados em seu sentido de poder que só
foram perceber que as pessoas existiam quando elas começaram a
bater-lhes nas cabeças. Mas você já sabe de tudo isso. .
Dom Juan disse em seguida que o domínio da intenção, juntamente com o
domínio da espreita são as duas obras-primas dos novos videntes, que
marcam o advento dos videntes dos dias de hoje.”
O Fogo Interior, pág. 164
• "Uma das grandes manobras dos espreitadores é contrapor o mistério à estupidez que há em cada um de nós."
Explicou que as práticas da espreita não são coisas para alguém se rejubilar; na verdade, são completamente censuráveis.
Sabendo disso, os novos videntes percebem que seria contra o interesse
geral discutir ou praticar os princípios de espreita em consciência
normal.
Apontei-lhe uma incongruência. Ele dissera que não há meios de os
guerreiros agirem no mundo enquanto se encontram em consciência
intensificada, e também que espreitar é simplesmente comportar-se diante
de pessoas de maneiras específicas. As duas afirmações contradiziam-se
mutuamente.
- Por não ensiná-la em consciência normal referia-me apenas a ensiná-la a
um nagual - disse ele. - O propósito de espreitar é duplo: primeiro,
deslocar o ponto de aglutinação tão firmemente e a salvo quanto
possível, e nada pode fazê-lo tão bem quanto a espreita; segundo,
imprimir seus princípios a um nível tão profundo que o inventário humano
seja ultrapassado, assim como a reação natural de recusar e julgar algo
que possa ser ofensivo à razão.
Falei que duvidava sinceramente que eu conseguisse julgar ou recusar
algo dessa forma. Riu e disse que eu não podia ser uma exceção, que iria
reagir como todos os outros quando ouvisse sobre os feitos de um mestre
espreitador, como seu benfeitor, o nagual Julian.
- Não estou exagerando quando lhe digo que o nagual Julian era o mais
extraordinário espreitador que jamais conheci disse Dom Juan. - Você já
ouviu de todos sobre seus talentos de espreita. Mas nunca lhe contei o
que ele fez comigo.”
O Fogo Interior, pág. 178
• “- A arte de espreitar é aprender todos os truques de seu disfarce -
retrucou Belisário, não dando atenção ao que Don Juan lhe dizia. - E
devem ser apreendidos com tanta eficiência que ninguém perceba o seu
disfarce. Para isso, você precisa ser implacável, esperto, paciente e
agradável.”
O Poder do Silêncio, pág. 78
• “- Essa sensação de estar arrolhado é experimentada por todo ser
humano. É um lembrete da existência de nossa conexão com o intento. Para
os feiticeiros essa sensação é ainda mais aguda, precisamente porque
seu objetivo é sensibilizar seu elo de conexão até que possam fazê-lo
funcionar à vontade.
"Quando a pressão de seu elo de conexão é grande demais, os feiticeiros aliviam-na espreitando a si mesmos.”
- Ainda acho que não compreendo o que quer dizer por espreitar - falei. -
Mas em certo nível penso que sei exatamente o que quer dizer.
- Tentarei ajudar você a esclarecer o que sabe, então. Espreitar é um
procedimento, um procedimento muito simples. Espreitar é comportamento
especial que segue certos princípios.
É um comportamento secreto, furtivo, enganoso, designado a provocar um
choque. E quando você espreita a si mesmo, você choca a si mesmo, usando
seu próprio comportamento de um modo implacável e astucioso.
Explicou que quando a consciência de um feiticeiro ficava enredada pelo
peso de suas aquisições perceptivas, o que estava acontecendo comigo, o
melhor, ou talvez o único remédio, era usar a idéia da morte para
proporcionar esse choque de espreita.
- A idéia da morte, portanto, é de importância monumental na vida de um
feiticeiro - continuou Don Juan. - Mostrei-lhe coisas inumeráveis a
respeito da morte para convencê-lo de que o conhecimento de nosso fim
pendente e inevitável é o que nos dá sobriedade. Nosso engano mais caro
como homens comuns é não se importar com o senso de imortalidade. É como
se acreditássemos que, se não pensássemos a respeito da morte, nos
pudéssemos proteger dela.”
O Poder do Silêncio, pág. 115
• “- O primeiro princípio da arte de espreitar é que os guerreiros
escolhem seu campo de batalha - disse. - Um guerreiro nunca entra na
batalha sem saber o que o cerca. A curandeira tinha me mostrado, na sua
batalha com Celestino, o princípio da espreita. Depois ela veio para
onde eu me encontrava deitada. Eu estava chorando. Era a única coisa que
podia fazer. Ela pareceu preocupada; cobriu meus ombros com o cobertor,
sorriu e piscou o olho para mim. "O trato continua - disse. - Volte
assim que puder, se quiser viver. Mas não traga seu mestre com você, sua
putinha. Venha com os que forem absolutamente necessários".
Florinda fixou os olhos em mim por algum tempo. Pelo seu silêncio concluí que ela esperava comentários da minha parte.
- Descartar tudo o que for necessário é o princípio da arte de espreitar - disse ela, sem me dar tempo de dizer nada.
O Presente da Águia, pág. 221
• “- Ela está treinando a arte de espreitar - disse Lídia. – O Nagual
ensinou-nos a confundir as pessoas, para elas não nos notarem. Josefina é
muito bonita e quando anda sozinha de noite, ninguém a importuna, se
for feia e fedorenta, mas se ela sair como realmente é, bem, você mesmo
pode dizer o que vai acontecer.
Josefina concordou com a cabeça e depois fez a careta mais feia do mundo.
- Ela consegue ficar com essa cara o dia inteiro - disse Lídia.
Argumentei que se eu morasse por ali, certamente havia de reparar mais
depressa em Josefina com o seu disfarce do que se ela não estivesse
disfarçada.
- Aquele disfarce foi só para você - disse Lídia, e as três se riram. - E
veja como o enganou. Você reparou mais no seu filho do que nela mesma.
Lídia foi para o quarto e trouxe um embrulho de trapos que parecia uma criança embrulhada e jogou-o na mesa diante de mim.
Eu ri às gargalhadas junto com elas.
- Vocês todas têm disfarces especiais? - perguntei.
- Não. Só Josefina. Ninguém por aqui a conhece como ela é
mesmo - respondeu Lídia.”
O Segundo Círculo do Poder, pág. 78
• “- Diga-me agora, qual é a arte de espreitar? - perguntei.
- O Nagual era um espreitador - disse ela, e olhou para mim. - Você deve
saber disso. Ele lhe ensinou a espreitar desde o princípio.
Ocorreu-me que aquilo a que ela se referia era o que Dom Juan chamava de
caçador. Certamente ele me ensinara a ser caçador. Eu lhe disse que Dom
Juan me ensinara a caçar e fazer armadilhas. Porém o uso que ela fazia
do termo espreitador era mais preciso.
- Um caçador apenas caça - disse ela. - Um espreitador espreita qualquer coisa, inclusive a si mesmo.
- Como é que ele faz isso?
- Um espreitador impecável pode transformar qualquer coisa em presa. O
Nagual me disse que podemos espreitar até as nossas próprias fraquezas.
Parei de escrever e procurei lembrar-me se Dom Juan algum dia me
apresentara uma possibilidade tão nova: espreitar as minhas fraquezas.
Não me recordava que ele jamais tivesse dito a coisa nesses termos.
- Como é que podemos espreitar nossas fraquezas, Gorda? - Do mesmo modo
que você espreita a caça. Você estuda os seus hábitos até conhecer todos
os atos de suas fraquezas e depois salta sobre elas e as pega como
coelhos dentro de uma gaiola.
Dom Juan me ensinara a mesma coisa sobre os hábitos, mas no sentido de
um princípio geral de que os caçadores devem ter consciência. Porém a
compreensão e a aplicação que ela tinha daquilo eram mais pragmáticas do
que as minhas.
Dom Juan dissera que qualquer hábito era, em essência, um "ato" e que um
"ato" precisava de todas as suas partes para poder funcionar. Se
faltassem algumas partes, um ato se desmoronava. Por ato ele queria
dizer qualquer série coerente e significativa de ações. Em outras
palavras, um hábito precisava de todas as suas ações componentes para
poder ser uma atividade viva.”
O Segundo Círculo do Poder, pág. 167
• “Depois a Gorda descreveu como ela espreitara a sua própria fraqueza
de comer exageradamente. Disse que o Nagual sugerira que ela primeiro
atacasse a parte maior desse hábito, que se ligava ao seu trabalho como
lavadeira; ela comia tudo o que os fregueses lhe davam, enquanto ia de
casa em casa entregando a roupa lavada. Ela esperava que o Nagual lhe
dissesse o que devia fazer, mas ele apenas riu e caçoou dela, dizendo
que assim que ele disse para ela fazer alguma coisa, ela havia de lutar
para não fazê-lo. Ele disse que os seres humanos são assim; adoram que
se diga o que devem fazer, mas adoram mais ainda lutar e não fazer o que
se manda, e assim se confundem e detestam aquele que lhes falou em
primeiro lugar.
Durante muitos anos ela não conseguiu pensar em nada para espreitar sua
fraqueza. Mas um dia ela ficou tão farta de ser gorda que se recusou a
comer durante 23 dias. Aquele foi o ato inicial que rompeu a sua
fixação. Depois ela teve a idéia de meter uma esponja na boca, para
fazer os fregueses acreditarem que ela tinha um dente infeccionado e que
não podia comer. O subterfúgio deu certo não apenas com os fregueses,
que pararam de lhe dar comida, mas também com ela mesma, pois ela tinha a
impressão de estar comendo, ao mastigar a esponja. A Gorda riu ao
contar que passou anos com uma esponja metida na boca, até acabar com o
hábito de comer demais.
- Foi só isso que você teve de fazer para perder o hábito? - perguntei.
- Não. Também tive de aprender a comer como uma guerreira. - E como é que uma guerreira come?
- Uma guerreira come com calma e devagar e muito pouco de cada vez. Eu
costumava falar enquanto comia e comia muito depressa e uma porção de
comida de cada vez. O Nagual me disse que um guerreiro come quatro
bocados de comida de cada vez. Um pouco depois ele come mais quatro
bocados e assim por diante.
"Um guerreiro também caminha vários quilômetros por dia. A minha
fraqueza de comer nunca me deixava caminhar. Eu a venci comendo quatro
bocados de hora em hora e caminhando. Às vezes eu caminhava o dia
inteiro e a noite inteira. Foi assim que perdi a gordura nas minhas
nádegas.”
O Segundo Círculo do Poder, pág. 167
• ”- Mas espreitar as suas fraquezas não é suficiente para perdê-las -
disse ela. - Você pode espreitá-las até o dia do juízo e não vai alterar
nada. É por isso que o Nagual não quis dizer-me o que fazer.
O que o guerreiro precisa mesmo a fim de ser um espreitador impecável é ter um propósito.
A Gorda contou como tinha vivido à-toa antes de conhecer o Nagual, sem
nenhum objetivo. Não tinha esperanças, nem sonhos, nem desejo de nada.
Porém a oportunidade de comer estava sempre à mão, para ela; por algum
motivo que ela não sabia explicar, sempre houvera bastante comida para
ela, desde que nascera. Tanta mesmo que em certa ocasião ela chegou a
pesar 107 quilos.
- Comer era a única coisa de que eu gostava na vida”
O Segundo Círculo do Poder, pág. 168
• “- Um feiticeiro é um tolteca quando recebeu os mistérios de espreitar
e sonhar - disse ela, com displicência. - Nagual e Genaro receberam
esses mistérios dos benfeitores deles e depois os conservaram em seus
corpos. Nós estamos fazendo a mesma coisa, e devido a isso somos
toltecas como o Nagual e Genaro.
"O Nagual ensinou a você e a mim a sermos igualmente desapaixonados. Eu
sou mais desapaixonada do que você porque não tenho forma. Você ainda
tem a sua forma e é vazio, de modo que fica preso em cada armadilha. Mas
um dia você será completo de novo e então compreenderá que o Nagual
tinha razão. Ele disse que o mundo dos homens sobe e desce e as pessoas
sobem e descem com seu mundo: como feiticeiros, não temos nada de
acompanhá-las em suas subidas e descidas.
" A arte dos feiticeiros é estar por fora de tudo e passar despercebido.
E mais que tudo, a arte dos feiticeiros é nunca desperdiçar o seu
poder. O Nagual me disse que o seu problema é que sempre fica preso em
besteiras, como o que está fazendo agora. Tenho certeza de que vai
perguntar a todos nós a respeito dos tolteca, mas não vai perguntar a
nenhum de nós sobre a nossa atenção.
O riso dela era cristalino e contagioso. Confessei que ela tinha razão.
Os pequenos problemas sempre me fascinaram. Também lhe disse que não
compreendia o uso que ela fazia da palavra atenção.
- Já lhe disse o que o Nagual me ensinou sobre a atenção - disse ela. -
Seguramos as imagens do mundo com a nossa atenção. Um feiticeiro homem é
muito difícil de treinar porque a atenção dele está sempre fechada,
focalizada sobre alguma coisa. A mulher, ao contrário, está sempre
aberta porque a maior parte do tempo ela não focaliza sua atenção sobre
nada. Especialmente durante a menstruação.”
O Segundo Círculo do Poder, pág. 180
• “A aprendizagem do ensonho não ofende, o máximo que você pode fazer é
não acreditar que tal coisa é possível. Por outro lado, a espreita, da
maneira como praticam os bruxos, é muito ofensiva para a razão. Muitos
guerreiros evitam falar sobre isso, porque não têm estômago para
agüentá-lo. Na fase inicial, o aprendiz fica no fogo cruzado e se sente
frustrado, não consegue sair do seu ego.
"A espreita é como uma moeda, tem duas caras. Por um lado, é a coisa
mais fácil que há, e por outro, é uma técnica muito difícil, não porque
seja complexa, mas porque trata de aspectos sobre si mesmas que as
pessoas normalmente não querem tratar.
"A espreita induz movimentos minúsculos, mas muito sólidos, do ponto de
aglutinação; não é como o ensonho que o move profundamente; mas retrai
como um elástico e volta imediatamente ao que você era. Quando espreita,
você segue vendo tudo igual como sempre, por isso você tentará aplicar
critérios cotidianos às coisas. Se em uma dada circunstância como esta,
você é forçado a alguma mudança por seu instrutor, a coisa mais certa é
que você ficará ofendido ou ferido em seu orgulho e se afastará do
ensino".
Perguntei qual era, então, o modo como os bruxos transmitiam essa arte.
Respondeu que, tradicionalmente, é ensinado em estado de consciência acrescentada e é deixada para o fim.
"Isso não é algo que possa ser dito logo de cara. É necessário
entendê-lo nas entrelinhas. Esta parte da aprendizagem pertence aos
ensinamentos para o lado esquerdo. Leva muitos anos para ser lembrado em
que consiste, e outros tantos mais para poder levá-lo à prática.
"No nível em que você está agora, a única coisa que lhe permite agüentar
a espreita é abordar isto com métodos de ensonho. Se em algum momento
você sente que estou tocando tópicos demasiado pessoais ou as suspeitas o
tomam, olhe para suas mãos ou use qualquer outro convocador que você
tenha escolhido. A atenção dos ensonhos ajudará a mover sua fixação".
Encontros com o Nagual, pág. 140
• "A espreita é a atividade central de um rastreador de energia. Embora
possa ser aplicado com resultados surpreendentes a nosso tratamento com
as pessoas, está desenhado principalmente para afinar o próprio
praticante. Manipular e dominar os outros é uma tarefa árdua, mas é
incomparavelmente mais difícil dominar a nós mesmos. Por isso a espreita
é a técnica que distingue o nagual.
"A espreita pode ser definida como a habilidade de fixar o ponto de aglutinação em novas posições.
"O guerreiro que espreita é um caçador. Mas, ao contrário do caçador
ordinário que tem a visão fixa em seus interesses materiais, o guerreiro
persegue uma presa maior: sua importância pessoal. Isso o prepara para
enfrentar o desafio de lidar com seus semelhantes - algo que o ensonho
não pode resolver por si só. Os bruxos que não aprendem a espreitar se
transformam em pessoas mal humoradas".
"Porque?"
"Porque eles não têm a paciência para tolerar as bobagens das pessoas.
"A espreita é natural para nós devido a uma característica.de nossa
herança animal: para sobreviver, todos desenvolvemos hábitos de
comportamento que moldam nossa energia e nos adaptam ao meio. Estudando
essas rotinas, um observador atento pode predizer com precisão o
comportamento de um animal ou um ser humano em um determinado momento.
"Os guerreiros sabem que toda forma de hábito é um vício. Pode amarrá-lo
ao consumo de drogas ou ir para a igreja todos os domingos; a diferença
é de forma, não de essência. Da mesma maneira, quando pensamos que o
mundo é razoável ou que as coisas em que acreditamos é a única verdade,
estamos sendo as vítimas de um hábito que oblitera nossos sentidos,
fazendo com que só vejamos o que nos seja familiar.
"As rotinas são padrões de comportamento que seguimos de um modo
mecânico, embora já não tenham sentido. Para espreitar é necessário sair
do imperativo da sobrevivência.
"Devido ao fato de que ele é o dono de suas decisões, um guerreiro
espreitador é uma pessoa que baniu da vida dele todo o vestígio de
hábito. Só tem que recuperar sua integridade energética para ser livre. E
como ele tem liberdade de escolher, pode envolver-se em formas
calculadas de comportamento, seja para tratar com as pessoas ou com
outras entidades conscientes.
Encontros com o Nagual, pág. 142
• "Não se complique. Você está tentando caricaturizar o ensinamento. Se
você quiser espreitar, observe-se a si mesmo. Todos nós somos uns
excelentes caçadores, a espreita é nosso dom natural. Quando a fome
aperta, ficamos mais atentos; as crianças choram e alcançam o que
querem; as mulheres enrodilham os homens e os homens se vingam entre si,
enganando-se em seus negócios. Espreitar é conseguir seu objetivo.
"Se você se dá conta do mundo em que vive, entenderá que manter-se
atento a ele, é um tipo de espreita. Considerando que nós aprendemos
isso antes que a nossa capacidade de discriminação se desenvolvesse, o
damos como um fato natural e quase nunca o questionamos. Porém, todas as
nossas ações, até mesmo as mais altruístas, estão, no fundo,
impregnadas do instinto do caçador.
"O homem comum não sabe que espreita porque seu caráter foi subjugado
pela socialização. Está convencido de que sua existência é importante;
dessa forma, suas ações estão a serviço de sua importância pessoal, não
do aumento de sua consciência"-
Encontros com o Nagual, pág. 145
• “Não é possível viver estrategicamente o tempo todo - respondi. -
Imagine que alguém o esteja esperando, com uma carabina possante, de
mira telescópica; ele poderia avistá-lo com precisão a cem metros de
distância. O que você faria?
Dom Juan olhou para mim com um ar de descrença e depois deu uma gargalhada.
- O que você faria? - insisti.
- Se alguém me estiver esperando com uma carabina de mira telescópica? - disse ele, evidentemente zombando de mim.
- Se alguém estiver escondido, à sua espreita. Você não terá uma chance. Não pode deter uma bala.
- Não. Não posso. Mas ainda não entendi o que você quer provar.
- Quero provar que toda a sua estratégia não o pode ajudar, numa situação dessas.
- Mas pode, sim. Se alguém estiver à minha espreita com uma carabina possante de mira
telescópica, eu simplesmente não vou aparecer.
Uma estranha realidade, pág. 171
• “As Atlantas são o nagual; são sonhadoras. Representam a ordem da
segunda atenção transportada; é por isso que são tão ameaçadoras e
misteriosas. São criaturas em conflito, mas não destroem. A outra
fileira de colunas, as retangulares, representa a ordem da primeira
atenção, a tonal. São espreitadoras, por isso são cobertas de
inscrições. São muito pacíficas e sábias, o oposto da fileira da
frente.”
O Presente da Águia, pág. 18
• “As espreitadoras eram as que recebiam o impacto do mundo diário; as
gerentes de negócios, as que lidavam com as pessoas. Tudo que se
relacionava ao mundo de assuntos comuns passava por elas. As
espreitadoras eram praticantes da loucura controlado, assim como as
sonhadoras eram praticantes do sonho. Em outras palavras, a loucura
controlado é a base da espreita, e os sonhos são a base do sonhar. Dom
Juan disse que, de um modo geral, a maior realização de um guerreiro na
segunda atenção era sonhar, e na primeira atenção, espreitar”
O Presente da Águia, pág. 169
• “Explicou que a recapitulação é o ponto forte dos espreitadores, como o
corpo sonhador é o ponto forte dos sonhadores. Consistia em recordar
sua vida até os mínimos detalhes. Para isso seu benfeitor lhe tinha dado
aquele engradado como um instrumento e um símbolo. Era um instrumento
que lhe permitia aprender a Se concentrar, pois tinha de se sentar lá
durante anos até que toda sua vida tivesse passado diante dos seus
olhos. E era um símbolo dos estreitos limites da nossa pessoa. Seu
benfeitor lhe disse que quando terminasse a recapitulação quebrasse o
engradado para simbolizar que não mais mantinha as limitações da sua
pessoa.
Ela disse que os espreitadores usam engradados ou caixões de
terra a fim de se trancarem dentro enquanto estão revivendo, mais que
simplesmente rememorando, todos os momentos de suas vidas. Os
espreitadores devem recapitular suas vidas completamente, porque a
dádiva da Águia ao homem inclui a disposição de aceitar uma
conscientização substituta, em vez de verdadeira, se tal substituição
for uma réplica perfeita. Florinda explicou que como a consciência é o
alimento da Águia, ela pode se satisfazer com uma recapitulação perfeita
em lugar da consciência.
Florinda me deu então os fundamentos da recapitulação. Disse que o
primeiro estágio é um breve relato de todos os incidentes da nossa vida,
que se apresentam de uma maneira óbvia para exame.
O segundo estágio é uma recordação mais detalhada, que sistematicamente
vai desde a época anterior ao espreitador ter se sentado dentro do
engradado, e teoricamente se estende ao momento do nascimento.
Ela me assegurou que uma recapitulação perfeita pode mudar um guerreiro
tanto, se não mais, quanto o controle total do corpo sonhador. Nesse
particular, o sonho e a espreita têm a mesma finalidade, entrar na
terceira atenção. É importante, entretanto, que o guerreiro saiba e
pratique os dois. Disse que para a mulher há configurações diferentes do
corpo luminoso para se aperfeiçoar em uma ou em outra. Os homens, ao
contrário, podem realizar os dois com facilidade, mas ao mesmo tempo não
podem nunca chegar ao grau de eficiência que as mulheres atingem em
cada arte.”
O Presente da Águia, pág. 228
• “Teoricamente, os espreitadores têm de se lembrar de cada sentimento
que tiveram na vida, e esse processo se inicia com uma respiração. Ela
me avisou que o que estava me ensinando eram apenas
preliminares, que mais tarde, em condições diferentes, me ensinaria as complexidades do processo.
Florinda disse que seu benfeitor lhe orientou a escrever uma
1ista de acontecimentos a serem revividos. Falou que a técnica se
iniciava com uma respirada inicial. Os espreitadores começam com o
queixo sobre o ombro direito e lentamente inspiram à medida que viram a
cabeça num ângulo de cento e oitenta graus. A respirada termina no ombro
esquerdo. Uma vez terminada a inspiração, a cabeça volta a ficar
relaxada. Eles expiram olhando para a frente.
O espreitador então pega o primeiro acontecimento da lista e se
concentra, até que todos os sentimentos que nele se encerram tenham sido
recontados. Enquanto se lembram dos sentimentos que tiveram durante o
acontecimento recordado, inspiram lentamente, movendo a cabeça do ombro
direito para o esquerdo. A função dessa respiração é restaurar energia.
Florinda disse que o corpo luminoso está constantemente criando
filamentos semelhantes a teias de aranha, que são projetados para fora
da massa luminosa, impulsionados por qualquer tipo de emoções. Portanto,
cada situação de interação ou cada situação que envolve sentimentos é
potencialmente drenada para o corpo luminoso. Respirando da direita para
a esquerda enquanto se lembram de um sentimento, os espreitadores,
através da mágica da respiração, pegam os filamentos que foram deixados
para trás. A próxima respirada imediata é da esquerda para a direita e é
uma expiração. Com ela os espreitadores soltam os filamentos deixados
neles por outros corpos luminosos envolvidos no acontecimento que está
sendo recordado.
Ela declarou que essas eram as preliminares essenciais da espreita”
O Presente da Águia, pág. 229
• “Dom Juan disse então que, nas listas estratégicas dos guerreiros, a
vaidade figura como atividade que consome a maior quantidade de energia,
daí seu esforço para erradicá-la.
- Uma das primeiras preocupações dos guerreiros é libertar aquela
energia para poder encarar o desconhecido com ela continuou Dom Juan. - A
ação de recana1izar aquela energia é a impecabilidade.
Disse, ainda, que a estratégia mais eficaz foi elaborada pelos videntes
da Conquista, mestres inquestionáveis da espreita. Consiste de seis
elementos que interagem entre si. Cinco deles são chamados de atributos
do guerreiro: controle, disciplina, paciência, oportunidade e vontade.
Estes dizem respeito ao mundo do guerreiro que está lutando para perder a
vaidade. O sexto elemento, talvez o mais importante de todos, pertence
ao mundo exterior, e é chamado de pequeno tirano.
Olhou-me como se perguntasse silenciosamente se eu compreendera ou não.
- Estou realmente intrigado - disse eu. - Você está sempre dizendo que La Gorda é o pequeno tirano de minha vida.
O que é exatamente um pequeno tirano?
- Um pequeno tirano é um atormentador - explicou. - Alguém que ou mantém
poder de vida e morte sobre guerreiros ou simplesmente os perturba,
levando-os à distração.”
O Fogo Interior, pág. 27
• “Dom Juan parou de falar, e olhou-me fixamente. Houve um silêncio
desajeitado; então começou a falar sobre a espreita. Disse que a
espreita teve origens muito humildes e acidentais. Partiu da observação
feita pelos novos videntes de que, quando os guerreiros se comportam por
algum tempo de modo fora do habitual, as emanações não usadas no
interior de seus casulos começam a brilhar. E seus pontos de aglutinação
se deslocam de maneira suave, harmoniosa, muito pouco perceptível.
Estimulados por essa observação, os novos videntes começaram a praticar
o controle sistemático do comportamento. Chamaram a essa prática arte
da espreita. Dom Juan comentou que, embora discordasse do nome, ele era
apropriado, porque a
espreita envolvia um tipo específico de comportamento diante das
pessoas, um comportamento que poderia ser categorizado como
sub-reptício.
Os novos videntes, armados com essa técnica, sondaram o conhecido de uma
maneira sóbria é frutífera. Pela prática contínua, fizeram seus pontos
de aglutinação se deslocar constantemente.
- A espreita é uma das duas maiores realizações dos novos videntes. Eles
decidiram que deveria ser ensinada ao nagual dos dias modernos quando
seu ponto de aglutinação já se tivesse deslocado bem profundamente para o
lado esquerdo. O motivo desta decisão é que um nagual precisa aprender
os princípios da espreita sem o incômodo do inventário humano. Afinal, o
nagual é o líder de um grupo, e para liderá-lo deve agir rapidamente,
sem ter que pensar primeiro.
"Outros guerreiros podem aprender a espreitar em sua consciência normal,
embora seja aconselhável que o façam em consciência intensificada...
não tanto por causa do valor da consciência intensificada, mas porque
isto imbui a espreita de um mistério que ela na verdade não possui;
espreitar é meramente um comportamento diante das pessoas."
Disse ainda que eu podia agora compreender que mudar o ponto de
aglutinação era a razão pela qual os novos videntes atribuíam um valor
tão alto à interação com os pequenos tiranos. Os pequenos tiranos
forçavam os videntes a usar os princípios da espreita e, ao fazê-lo,
ajudavam-nos a deslocar seus pontos de aglutinação. .
O Fogo Interior, pág. 163
• “Assim que as mulheres partiram, Dom Juan retomou abruptamente sua
explicação. Disse que à medida que o tempo passava e os novos videntes
estabeleciam suas práticas, perceberam que, sob as condições
prevalecentes da vida, espreitar deslocava muito pouco os pontos de
aglutinação. Para efeito máximo, a espreita necessitava de uma
localização ideal; necessitava de pequenos tiranos em posições de grande
autoridade e poder. Tomou-se cada vez mais difícil para os novos
videntes se colocarem a si próprios em tais situações; a tarefa de
improvisá-las ou procurá-las tomou
se uma carga insuportável.
Os novos videntes julgaram imperativo ver as emanações da Águia para
encontrar uma maneira mais adequada de deslocar o ponto de aglutinação.
Quando tentaram ver as emanações, foram confrontados com um problema
sério. Descobriram que não há maneira de ver as emanações sem correr um
risco mortal, e no entanto tinham de vi-las. Essa foi a época em que
usaram a técnica
de sonhar dos antigos videntes como um escudo para proteger-se do golpe
mortal das emanações da Águia. E, ao agir assim, perceberam que sonhar
era na verdade o modo mais eficiente de deslocar o ponto de
aglutinação.”
O Fogo Interior, pág. 166
• "Os novos videntes perceberam que em nosso estado normal de
consciência temos incontáveis defesas que podem resguardar-nos contra a
força de emanações inusuais, que subitamente se alinham durante o
sonho."
Dom Juan explicou que sonhar, assim como espreitar, começava com uma
simples observação. Os antigos videntes tiveram consciência de que nos
sonhos o ponto de aglutinação se desloca ligeiramente para a esquerda;
de maneira natural. Com efeito, o ponto de aglutinação relaxa quando o
homem dorme, e todos os tipos de emanações inusuais começam a brilhar.
Os antigos videntes ficaram imediatamente intrigados com esta observação
e começaram a trabalhar com esse deslocamento natural até se tomarem
capazes de controlá-lo. Chamaram esse controle de sonhar, ou a arte de
manejar o corpo sonhador.
O Fogo Interior, pág. 167
• “Você é um sonhador. Se não tiver cuidado com sua energia sexual, pode
muito bem se acostumar à idéia de movimentos erráticos de seu ponto de
aglutinação. Há um momento você estava espantado por suas reações. Bem,
seu ponto de aglutinação move-se quase erraticamente, porque sua energia
sexual não está equilibrada.
Fiz um comentário estúpido e inoportuno sobre a vida sexual dos machos adultos.
- Nossa energia sexual é o que governa sonhar - explicou. - O nagual
Elias ensinou-me, e eu ensinei a você, que você ou faz amor com sua
energia sexual ou sonha com ela. Não há outra maneira. A razão pela qual
menciono tudo isto é porque você está encontrando grande dificuldade em
mover seu ponto de aglutinação para aprender nosso último tópico: o
abstrato.
"A mesma coisa aconteceu comigo. Só depois que minha energia sexual foi
libertada do mundo é que tudo se encaixou no lugar. Esta é a regra para
sonhadores. Os espreitadores são o oposto. Meu benfeitor era, você
poderia dizer, um libertino sexual tanto como homem comum quanto como
nagual.”
O Poder do Silêncio, pág. 53
• “Explicou a Don Juan que espreitar era uma arte aplicável a tudo, e
que havia quatro passos para aprendê-la: implacabilidade, esperteza,
paciência e doçura.
Senti-me compelido a interromper seu relato mais uma vez. - Mas a
espreita não é ensinada em profunda consciência intensificada? -
perguntei.
- É claro - replicou com um sorriso. - Mas você pode compreender que
para alguns homens usar roupas de mulheres é a porta para a consciência
intensificada. Com efeito, tais meios são mais efetivos que empurrar o
ponto de aglutinação, mas são muito difíceis de arranjar.
Don Juan contou que seu benfeitor afiava-o diariamente nas quatro
disposições da espreita e insistia que Don Juan compreendesse que
implacabilidade não deveria ser rudeza, esperteza não deveria ser
crueldade, paciência não deveria ser negligência e doçura não deveria
ser tolice.”
O Poder do Silêncio, pág. 80
• “Numa voz muito baixa, Don Juan disse que por eu estar num estado de
consciência intensificada, podia compreender mais de imediato o que ia
contar-me acerca das duas mestrias: espreita e intento. Chamou-as a
glória culminante dos feiticeiros antigos e novos, a própria coisa com a
qual os feiticeiros estavam preocupados atualmente, preocupação
semelhante à dos feiticeiros há milhares de anos. Assegurou que
espreitar era o princípio, e que antes de tudo ser tentado no caminho do
guerreiro, os guerreiros precisam aprender a espreitar em seguida devem
aprender a intentar, e apenas então podiam mover seu ponto de
aglutinação à vontade.”
O Poder do Silêncio, pág. 91
• “Na arte de espreitar - continuou Don Juan - há uma técnica que os
feiticeiros usam muito: loucura controlada. Segundo eles, a loucura
controlada é a única maneira que têm de
lidar consigo mesmos, em seu estado de consciência e percepção expandidas, e com todos e tudo no mundo dos afazeres diários.
Don Juan explicou a loucura controlada como a arte do engano controlado
ou a arte de fingir estar profundamente imerso na ação - fingindo tão
bem que ninguém pudesse distingui-lo da coisa real. A loucura controlada
não é um engano direto, mas um modo sofisticado, artístico, de estar
separado de tudo permanecendo ao mesmo tempo uma parte de tudo.
- A loucura controlada é uma arte - continuou Don Juan. - Uma arte que
causa muitas preocupações, e muito difícil para se aprender. Muitos
feiticeiros não suportam isso, não porque haja alguma coisa
inerentemente errada com a arte, mas porque é preciso muita energia para
exercê-la.
Don Juan admitiu que a praticava conscienciosamente, embora não gostasse
particularmente de fazê-lo, talvez porque seu benfeitor fosse tão
adepto a ela. Ou talvez fosse porque sua personalidade - que ele disse
ser basicamente tortuosa e mesquinha - simplesmente não tinha agilidade
necessária para praticar a loucura controlada.
Olhei para ele com surpresa. Parou de falar e fixou-me com seus olhos maliciosos.
- Na época em que chegamos à feitiçaria, nossa personalidade já está
formada - disse, e encolheu os ombros em sinal de resignação -, e tudo
que podemos fazer é praticar a loucura controlada e rir de nós mesmos.”
O Poder do Silêncio, pág. 233
• “Dom Juan mostrou seu espanto com o fato de, dentre todas as coisas
maravilhosas que os feiticeiros antigos aprenderam explorando esses
milhares de posicionamentos, somente a arte de sonhar e a arte de
espreitar permanecem hoje em dia. Reiterou que a arte de sonhar tem a
ver com o deslocamento do ponto de aglutinação. E então definiu a
espreita como a arte que lida com a fixação do ponto de aglutinação em
qualquer posicionamento para o qual ele foi deslocado.
- Fixar o ponto de aglutinação em qualquer novo posicionamento para o
qual foi deslocado significa adquirir coesão falou. - Você esteve
fazendo exatamente isso em seus exercícios de sonhar.
- Achei que estava aperfeiçoando minha atenção sonhadora - falei, um tanto surpreso com sua afirmação.
- Você está fazendo isso e muito mais; está aprendendo a ter coesão.
Sonhar faz isso forçando os sonhadores a fixar o ponto de aglutinação. A
atenção sonhadora, o corpo energético, a segunda atenção, o
relacionamento com seres inorgânicos, o emissário do sonho, são apenas
subprodutos do processo de adquirir coesão; em outras palavras, são
todos subprodutos de fixar o ponto de aglutinação em várias posições do
sonhar.
- O que é uma posição do sonhar, Dom Juan?
- Qualquer novo posicionamento para onde o ponto de aglutinação tenha se deslocado durante o sono.”
A Arte do Sonhar, pág.86
• "A arte de espreitar, como já disse, tem a ver com a fixação do ponto
de aglutinação. Através da prática os feiticeiros antigos descobriram
que ainda mais importante do que deslocar o ponto de aglutinação é fazer
com que ele fique no novo posicionamento, onde quer que seja.
Explicou que, se o ponto de aglutinação não ficar estacionário, não há
possibilidade de percebermos coerentemente. O que perceberíamos seria um
caleidoscópio de imagens desassociadas. Por isso os feiticeiros antigos
punham tanta ênfase no sonhar quanto na espreita. Uma arte não pode
existir sem a outra, especialmente para o tipo de atividade em que eles
estavam envolvidos.
- Quais eram essas atividades?
- Os feiticeiros antigos chamavam-nas de complexidades da segunda atenção e de grande aventura do desconhecido.
Dom Juan disse que essas atividades eram resultantes dos deslocamentos
do ponto de aglutinação. Os feiticeiros antigos aprenderam não somente a
deslocar seu ponto de aglutinação para milhares de posicionamentos na
superfície ou no interior de sua massa energética, como também a fixar o
ponto de aglutinação nessas posições, e assim manter indefinidamente a
coesão.
- Qual é o benefício disso, Dom Juan?
- Não podemos falar sobre benefícios. Só podemos falar sobre resultados finais.
Explicou que a coesão dos feiticeiros antigos era tamanha a ponto de
permitir que se tornasse perceptivo e fisicamente tudo que fosse ditado
pelo posicionamento específico de seu ponto de aglutinação. Podiam
transformar-se em qualquer coisa para a qual tivessem um inventário
específico. Segundo ele um inventário era a relação de todos os detalhes
de percepção envolvidos em tornar-se, por exemplo, jaguares, pássaros,
insetos etc. etc.
A Arte do Sonhar, pág.94
• Explicou que, como tudo que é relacionado ao corpo energético depende
do posicionamento adequado do ponto de aglutinação, e como o sonhar nada
mais é do que um meio de deslocá-lo, espreitar - conseqüentemente - é o
meio de fazer o ponto de aglutinação fixar-se na posição ideal; neste
caso, a posição onde o corpo energético pode ser consolidado, e da qual
ele finalmente emerge.
Dom Juan disse que, no momento em que o corpo energético consegue se
movimentar sozinho, os feiticeiros presumem que foi encontrado o
posicionamento ideal do ponto de aglutinação. O passo seguinte é
espreitá-lo, isto é, fixá-lo naquela posição para completar o corpo
energético. Observou que o procedimento é de uma simplicidade total.
Basta intentar espreitá-lo.
Silêncio e olhares de expectativa seguiram-se a essa afirmação. Esperei
que ele dissesse mais, e ele esperou que eu tivesse compreendido o que
dissera. Não tinha.
- Deixe seu corpo energético intentar a chegada ao melhor posicionamento
de sonhar - ele explicou. - Em seguida, deixe seu corpo energético
intentar a permanência naquele posicionamento, e você estará
espreitando.
A Arte do Sonhar, pág.181
• “- Vou propor uma linha de ação para você- falou num tom cortês,
quando terminamos o almoço. - É a última tarefa do terceiro portão do
sonhar, e consiste em espreitar os espreitadores; uma manobra
misteriosíssima. Espreitar os espreitadores significa que você
deliberadamente retira energia do mundo dos seres inorgânicos com o
objetivo de realizar um ato de feitiçaria.
- Que tipo de ato de feitiçaria, Dom Juan?
- Uma viagem; uma viagem que usa a consciência como um elemento do
ambiente. No mundo da vida cotidiana a água é um elemento do ambiente
que usamos para viajar. Imagine a consciência como um elemento
semelhante, que pode ser usado para viajar. Através da consciência
batedores de todo o universo vêm até nós. E através da consciência os
feiticeiros vão aos confins do universo.
Havia alguns conceitos, dentre a enorme quantidade de conceitos que Dom
Juan me fizera conhecer no decorrer de seus ensinamentos, que não
precisavam de insistência para atrair meu interesse total. Esse era um
deles.
- A idéia de que a consciência é um elemento físico é uma coisa revolucionária - falei espantado.
- Não falei que ela é um elemento físico - ele me corrigiu. - É um
elemento energético. Você precisa fazer essa distinção. Para os
feiticeiros que vêem, a consciência é um brilho. Eles podem atrelar seu
corpo energético àquele brilho e viajar com ele.
- Qual é a diferença entre um elemento físico e um elemento energético? - perguntei.
- A diferença é que os elementos físicos são parte de nosso sistema de
interpretação, mas os elementos energéticos não. Os elementos
energéticos, como a consciência, existem em nosso universo. Mas nós,
como pessoas comuns, só percebemos os elementos físicos porque nos
ensinaram isso. Os feiticeiros percebem os elementos energéticos pelo
mesmo motivo: porque lhes ensinaram a fazê-lo.”
A Arte do Sonhar, pág.205
• Dom Juan me dizia o tempo todo que os feiticeiros estavam divididos em
dois grupos: um grupo de sonhadores; o outro de espreitadores. Os
sonhadores eram aqueles que tinham grande facilidade de deslocar o ponto
de aglutinação. Os espreitadores eram aqueles que tinham grande
facilidade em manter o ponto de aglutinação fixado naquela nova posição.
Sonhadores e espreitadores complementavam uns aos outros, e trabalhavam
em pares, afetando uns aos outros com suas inclinações inatas.
Dom Juan assegurou-me que o deslocamento e a fixação do ponto de
aglutinação poderiam ser alcançados à vontade, por meio da disciplina
férrea dos feiticeiros. Disse que os feiticeiros de sua linhagem
acreditavam que havia pelo menos seiscentos pontos na esfera luminosa
que nós somos, e que quando alcançados à vontade pelo ponto de
aglutinação pode nos dar um mundo totalmente inclusivo; o que significa
que, se o nosso ponto de aglutinação é deslocado para qualquer desses
pontos e permanecer fixo nele, perceberemos um mundo como inclusivo e
total, como o mundo da vida cotidiana, porém, mesmo assim, um mundo
diferente.
O Lado Ativo do Infinito, pág. 223
• “Dom Juan dissera que a arte dos espreitadores entra em jogo depois
que o ponto de aglutinação foi deslocado. Manter o ponto de aglutinação
fixo na nova posição assegura aos feiticeiros a percepção do novo mundo
que eles entraram em sua absoluta plenitude, exatamente como nós fazemos
no mundo dos assuntos corriqueiros. Para os feiticeiros da linhagem de
Dom Juan, o mundo da vida cotidiana não é mais do que uma camada de um
mundo total consistindo em pelo menos seiscentas camadas.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 224
• “Nós podemos aprender a avaliar o mundo de um ponto de vista
desapegado, da mesma maneira que nós aprendemos, quando crianças, a
avaliá-lo a partir da razão. Só que o desapego, como ponto de enfoque da
atenção, está muito mais próximo da realidade energética das coisas.
"Sem essa precaução, a convulsão emocional resultante do exercício de
espreitar a nossa auto-importância pode ser tão dolorosa que o aprendiz
pode ficar louco ou ser levado ao suicídio. Quando ele aprender a
contemplar o mundo a partir da não compaixão, intuindo que por trás de
toda a situação que implique um desgaste energético há um universo
impessoal, o aprendiz deixa de ser um nó de sentimentos e se torna um
ser fluido.
Encontros com o Nagual, pág. 39
• "Recapitular é espreitar nossas rotinas, submetendo-a a um escrutínio
sistemático e impiedoso. É a atividade que nos permite visualizar nossa
vida como totalidade e não como uma sucessão eventual de momentos.
Porém, e ainda que isto possa parecer estranho, só os bruxos recapitulam
como norma; o resto das pessoas apenas o faz por casualidade.
"A recapitulação é a herança dos antigos videntes, a prática básica, a essência da bruxaria. Sem ela não há nenhum caminho.”
Encontros com o Nagual, pág. 79
• “A recapitulação é uma forma especializada de espreita e vocês devem
empreender isto com um alto sentido de estratégia. Trata-se de entender e
pôr em ordem nossas existências, vendo-as tal e qual são, sem remorsos,
repreensões ou felicitações, com desapego total e um ânimo leve, até de
humor, porque nada em nossa história é mais importante que nada e todas
as relações, afinal, são efêmeras.
"O importante é começar, porque a energia que nós recuperamos desde o
primeiro intento nos dará forças para continuar recapitulando aspectos
mais e mais intrincados de
nossas vidas. Primeiro, é necessário começar pelo investimento mais
forte que são os sentimentos mais desgarrados. Depois seguimos por
aquelas memórias tão profundas que nós já acreditávamos esquecidas, mas
que estão ali.
Encontros com o Nagual, pág. 82
• “Carlos continuou dizendo que os bruxos antigos usavam plantas de
poder para parar o diálogo interno. Mas os guerreiros atuais preferem
condições menos arriscadas e mais controladas.
"Podemos obter os mesmos resultados produzidos pelas plantas quando nos
colocamos contra a parede. Ao enfrentar situações limite, como o perigo,
o medo, a saturação sensorial e a agressão, algo em nós reage e toma o
controle. A mente se põe em alerta e suspende a tagarelice
automaticamente. Colocar-se a si mesmo deliberadamente nessas situações
se chama espreita.”
Encontros com o Nagual, pág. 95
• "Fui com meu dilema ver Don Juan. Ele riu do assunto e falou que um
princípio dos espreitadores é não se confrontar com ninguém, e menos
ainda com pessoas mais poderosas que eles.
Encontros com o Nagual, pág. 120
• "Talvez você não tenha tido boa sorte. Meu mestre dizia que cada ser
humano traz sua tendência de nascença. Nem todos são bons ensonhadores;
alguns têm maior facilidade para a espreita. A questão importante é que
você insista".
Encontros com o Nagual, pág. 125
Apontando as pessoas que voltavam do trabalho, falou:
• "O que você acha que eles foram fazer? Essas pessoas foram viver seu
último dia! A coisa triste é que, provavelmente, poucos deles sabem
disto. Cada dia é único e o mundo não é só como nos falaram. Cancelar a
força do hábito é uma decisão que se toma de uma vez. A partir desse
ato, o guerreiro se torna um espreitador"-
Encontros com o Nagual, pág. 143
• "E não pode acontecer que o guerreiro acabe fazendo do seu propósito algo cotidiano?"
Não. Isto é algo que você tem que entender muito bem, pois do contrário
sua busca por impecabilidade perderá seu frescor e você terminará
traindo-a. Romper rotinas não é o propósito do caminho, mas apenas um
meio. A meta é estar consciente. Tendo isso em consideração, outra
definição da espreita é: 'uma atenção inflexível sobre um resultado
total”
"Esse tipo de atenção sobre um animal dá como resultado um pedaço de
carne.(???) Se o aplicarmos isto sobre outra pessoa, produz um cliente,
um discípulo ou um enamoramento. E sobre um ser inorgânico, nos
proporciona o que os bruxos chamam 'um aliado.' Mas só se aplicarmos a
espreita em nós mesmos, pode ser considerada uma arte tolteca, porque
então produz algo precioso: a consciência".
Encontros com o Nagual, pág. 144
• "O método do bruxo consiste em focalizar de uma maneira nova a
realidade em que vivemos. Mais que acumular informação, o que se busca é
recompactar a energia. Um guerreiro é alguém que aprendeu a
espreitar-se a si mesmo e já não carrega uma pesada imagem para mostrar
aos outros. Ninguém pode descobri-lo se ele não o desejar, porque não
tem apegos. Está além do caçador, pois aprendeu a rir de si mesmo".
Contou como sua instrutora, dona Florinda Matus, o ensinou a passar despercebido.
"Exatamente no momento em que meus livros me transformaram em um homem
rico, ela me enviou a fritar hambúrgueres em um restaurante de estrada!
Durante anos trabalhei vendo meu dinheiro sem poder usá-lo. Disse que
isso me ensinaria a não perder a perspectiva adequada. E aprendi minha
lição!
Encontros com o Nagual, pág. 146
"
Nota: Este estudo foi feito pelo Grupo de Tensegridade de Sampa.
Incentiva-se cópias e distribuição por todos os meios existentes, papel,
video, cinema, ondas em geral, boca-a-boca (?!), e outros a serem ainda
descobertos
domingo, 6 de maio de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário